0 que é a Poesia? É tudo!
Tudo aquilo que você faz, diz, pensa, sente ou supõe sentir; tudo aquilo que você vê, ouve, pensa que viu ou que ouviu; tudo aquilo que imagina que os outros sentem;
tudo aquilo que você acredita que amou e que ainda ama; é tudo aquilo
que você viveu e ainda vive; e tudo aquilo que você ainda poderá fazer,
dizer, pensar, sentir, ver, ouvir, imaginar, acreditar, viver e amar.
—
Há poetas e poetas, por isto…
quisera o brilho do real poeta
que com o manejo do estribilho
da poesia monta o corcel,
com nobreza segura a pena
e derrama ouro sobre o papel
aquele poeta que não encena,
que contracena com o papel
eu tenho papel, papel e pena,
mas tenho pena do meu papel
que vira réu, sofre e apanha
da minha mão que faz escarcéu,
que suja a folha e a arranha,
pra sair, depois de tanta manha,
um poemico jogado ao léu
sentir eu sinto, mas nada escrevo,
pensar eu penso, mas não transcrevo,
apenas minto e sub escrevo
a mão percorre a folha branca,
que quase corre de tanto medo,
quando percebe que boto banca
e que sou poeta de arremedo
uma coisa aqui é certa:
há muita pena e muito papel
para pouco ou nenhum poeta
o dia nasce e logo entardece
como acontece com cada dia,
então vem a noite e amanhece,
e em vão procuro a poesia
quanta pena do meu papel!
que vira escravo e se apequena
com tanto entulho, tanto tropel
de um poeta que só encena
e assim é justo que eu insista
em ter pena do meu papel,
se por mais que tente e que persista
só faço cena, pura babel
no papel que ganha inúteis riscos
e se amarfanha com meus rabiscos
poeta infausto, ave sem pena,
e já exausto da mão pequena,
do fosco poema, do meu ouropel,
sabem o que faço com o papel,
com este tosco papel que faço?
a mão da pena tiro e levanto,
e o pobre papel, já perdido o encanto,
agora sem pena e sem demora,
rasgo, amasso e deito fora!
Afinal, como disse Fernando Pessoa:
“O poeta é um fingidor…”
Remisson Aniceto
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