
Em 2020 tive a alegria de ler, em primeira mão, algumas poesias que recebi do amigo poeta, professor e revisor Delalves Costa, poesias do livro MIDIASERÁVEL, que logo depois seria publicado pela Editora Patuá, do competentíssimo Eduardo Lacerda.
“Depois que a gente crescer, a casa da árvore não tem mais lugar/Depois que a gente crescer, vão-se as estações com o assopro do vento” (do poema A casa na árvore)
Um competentíssimo professor e seguramente já grande nome da literatura brasileira, Delalves Costa (Anderson Alves), gaúcho da cidade de Osório, teve a gentileza de mandar para minha apreciação algumas poesias do seu próximo livro, intitulado MIDIASERÁVEL, que será brevemente publicado pela Patuá, avisando: “Escolhi os textos aleatoriamente, difícil escolha“. Se ele, grande educador e detentor de um vasto arsenal poético-filosófico teve dificuldade para selecionar, imaginem vocês como será para este pobre, porém agradecidíssimo leitor, comentar sobre os textos?
O bom crítico literário, via de regra, se apodera da poesia para entendê-la, analisá-la e reagir de forma genuína, usando as ferramentas necessárias e exclusivas do especialista: a leitura e o entendimento, que lhe permitem tecer uma análise satisfatória. Estas ferramentas em mim, se existirem, carecem de qualificação. Desta forma, a minha contribuição não pode ser considerada como um texto crítico, mas apenas e puramente a opinião emocional e despretensiosa de um simples e inflamado amante e defensor da poesia.
E como eu já disse em outras oportunidades, mesmo não sendo crítico profissional, quando a poesia me toca profundamente não resisto e aceito de muito bom grado o seu convite para deitar com ela na mesma cama e analisar cuidadosamente as suas particularidades, me aprofundando naturalmente na releitura de cada uma das suas linhas. A boa poesia pede inúmeras visitas, se infiltrando demoradamente pelos nossos poros e nossas veias, compreendendo os nossos anseios na mesma medida em que entendemos e obedecemos ao que ela nos pede em cada um dos seus versos. A relação leitor-poesia deve ter essa mutualiadade própria daqueles que buscam o mesmo objetivo.
Sem a necessidade de fazer qualquer paralelo com outros nomes de poetas consagrados, a poesia do Delalves Costa nos deleita de tal forma que de imediato imprime a sua tatuagem na delicada e sensível pele da nossa alma, deixando marcas que, quando bem querem e ao seu bel-prazer, nos remetem constantemente às delícias do texto lido. Diferente daquelas tatuagens superficiais feitas no corpo físico e que quando nos cansamos ou nos arrependemos delas, podemos retocá-las ou removê-las, mesmo que para isso seja necessário arrancar parte da pele, que depois se recompõe.
A tatuagem deixada pela poesia do gaúcho Delalves é perene e irremovível, nos propiciando tanto prazer que se torna impossível arrepender e querer removê-la.
E quem seria louco ou inconsequente ao ponto de querer arrancar da sua memória e da sua vida aquilo que só lhe faz bem, como esta poesia carregada de sonoridade e efeito encantatório, dosando sutilmente as relações entre a vida, o amor e a morte, sem se descuidar das pinceladas de crítica social, porém livre daquele pedantismo acadêmico que muito se vê em tantos escritores?
Uma poesia que dispensa qualquer maior e criteriosa análise para atestar o seu valor, dependendo exclusivamente da sua leitura direta, de surpresa, para atrair a nossa atenção e nos impactar. Suas linhas se entregam completamente ao leitor, mas não sem primeiro exigir que cada uma delas seja tateada, acariciada, percorrida, arrancada do papel e colada na pele da nossa alma. Para se fixar na memória e nos arrebatar do comodismo e do lugar-comum toda vez que precisarmos, nos mobilizando em busca do melhor caminho.
Além de encantar, o professor Delalves Costa, consciente do seu domínio sobre a palavra, mas livre daquela egotista e desprezível postura de alguns literatos, brinda o leitor com uma poesia que o toma de assalto, derrubando o muro que impede o seu percurso e o limita ao nada-ser. Poesia que o abraça calorosamente, libertando para a possibilidade de pensar e tomar partido, e assim usufruir do melhor que a vida oferece.
Agradeço outra vez ao autor pela confiança desta prévia leitura durante a gestação e o nascimento do seu MIDIASERÁVEL.
A poesia brasileira agradece por tê-lo como um dos seus mais fiéis e íntegros representantes.
Um abraço do Remisson
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Delalves Costa (13 de dezembro de 1981 – Osório, RS), escritor e poeta com vários livros editados e publicações em plataformas literárias impressas e digitais. É sócio-fundador e membro honorário da Academia dos Escritores do Litoral Norte (AELN/RS) e sócio da Associação Gaúcha de Escritores (AGES).

Delalves Costa (Anderson Alves) com este que lhes escreve, o historiador Rodrigo Trespach e a queridíssima Wanda Monteiro, na Patuscada – Livraria, bar & café, em SP.
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