À ausência da poesia (de Beth Brait Alvim)

Sonoro é o ruir das noites sem poesia.

Furo os bicos dos meus seios com cacos de tesouras velhas.

Bebo telhas noites inteiras

metade limo e a outra pó.

Rasgo bainhas de longas saias pretas e as refaço até o dia explodir meus olhos

Me equilibro sobre o parapeito da janela escancarada vasculhando o nada

Corto meus pulsos com lascas de ferrinhos esfumaçados de ferrugem.

Grafito pálpebras nas árvores daquele beco onde nos lambíamos

e me esfrego nas bocas de lobo do baixo Augusta

taturana tatuada nas nódoas dos muros do Araçá.

Ruído só do silêncio profundo zunindo dentro dos meus tímpanos.

E o que me habita é um vulto indefinido na madrugada indefinida.

Para a plaquete Convulsões, inédita, comemorativa dos Cem anos do Surrealismo.

Texto e imagem: Facebook da autora


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