
Tenho uma amiga morando na Alemanha.
A Alemanha para mim sempre foi lá, muito longe, principalmente porque
minha bagagem turística só atravessa a fronteira gaúcha, a Alemanha,
minha nossa, era muito lá.
Mas foi depois que minha amiga foi morar na Alemanha, que na verdade nos
tornamos amigas, antes disso ela foi professora de matemática de minha
filha, minha parceira no grupo de vôlei, éramos conhecidas, mas não
amigas. Quando fiquei sabendo que ela partiria, sei lá porque motivo,
fizemos um trato.
Todos os meses vamos nos corresponder, eu te escrevo, tu me escreves, simples assim, meio de brincadeira até.
Mas deu certo, é claro que como boas amigas já atrasamos nossa
correspondência algumas vezes, mas seguimos firmes, carta para Alemanha,
carta para o Brasil.
E foi assim que nos tornamos amigas de verdade, de confidências, de segredos.
Já contei a ela coisas que não contei a ninguém, já nos consolamos, rimos, ficamos felizes e tristes, sempre por carta.
Pronto o lá se transformou em ali.
Para mim hoje a Alemanha é logo ali, tem a distância de um envelope que
me chega as mãos todos os meses, recheado de novidades, carinhos,
passeios turísticos, sei mais sobre a Alemanha hoje do que sei sobre a
cidade após a minha.
Sei quando está frio lá, e como é frio.
Sei quando é verão.
Quando recebo aquela carta, leio e fecho os olhos, posso até me sentir na Alemanha.
Simples assim, ter uma amiga na Alemanha, senão fosse um exagero, quase me transformaria em alemã.
O lá é logo ali, a distância é medida pelo prazer de uma amizade, pelas
novidades, pelas noticias, pela capacidade de construir e manter uma
amizade em universos tão distantes e diferentes.
Talvez eu nunca vá na Alemanha, talvez, sei lá, mas hoje quando penso na Alemanha, não me parece lá, chego a pensar.
É logo ali, minha amiga mora ali, bem pertinho de mim, na Alemanha.