“Por favor” o que?

Nunca sei que tipo de pergunta vai aparecer por lá.

De vez em quando recebo alguma coisa e não consigo responder imediatamente porque o tal contato me desperta sensações interessantes e eu deixo amadurecer para então, dar minha resposta.

A última que recebi foi uma mensagem curta e grossa: “A nudez: comente.”

Poderia discorrer sobre o que acho da nudez. Assunto interessante sem dúvida, mas o que pegou não foi a concisão da frase e sim esse imperativo: “comente”.

O contato entre as pessoas não deve ser curto e grosso, principalmente grosso.

Eu mesma só sou curta e grossa quando alguém merece porque fez algo para mim que eu não gostei.

Antigamente me chateavam quando eu falava “gostaria”, “queria” como se eu não quisesse mais. Eu pacientemente explicava que estava apenas sendo educada e não usando um imperativo a toa.

Hoje nem explico, se alguém faz menção que estou usando o “gostaria” no lugar do “eu quero”, eu mando fazer. Mando.

Mandar é uma coisa muito desagradável. Mas além de ser educada eu também sei mandar e não tenho problemas com o imperativo: “faça!”.

Como estava dizendo, sou muito tranquila. Eu peço, falo da forma mais gentil possível até a hora que percebo que a pessoa não merece tal tratamento diferenciado. Daí, é “faça já porque estou mandando”.

As relações contém implicitamente um acordo de cavalheiros do que se pode ou não fazer e de como se pede que se faça.

No trabalho, não vou pedir nem vou fazer o que não fui contratada nem o que contratei que fizessem. E atrito aparece apenas se umas das partes não está cumprindo o que foi acertado.

Ninguém tem que me mandar atender os pacientes.

Fora do âmbito profissional, não existem regras escritas do que as pessoas devem ou não fazer pelas outras.

Na verdade acho que ninguém “deve fazer” nada.

A gente faz porque gosta, porque se preocupa, porque quer agradar o outro. E faz também na esperança que um dia façam o mesmo por nós.

Ledo engano.

Fazer algo esperando alguma coisa em troca é uma das maiores furadas. Decepcionante. Simplesmente ninguém vai fazer.

Essa verdade verdadeira dos fatos da vida só alimentam ainda mais nossa individualidade e auto-suficiência. Por um lado é bom e por outro é ruim.

Ao mesmo tempo que aumento minha segurança e proficiência, minhas relações com os outros se diluem e se tornam mais exigentes. Exigentes na medida que não preciso exigir mais nada de ninguém.

Resumindo, eu não gosto que me mandem fazer nada, nem esperem que eu tenha obrigação de fazer nada. Eu não faço isso com os outros e é o mínimo que exijo em troca.