Nós não somos propriamente vizinhos.
A gente mora em cima do morro e eles lá do outro lado do rio, na baixada. Porém, entre nós apenas pastos.
Os pastores do vizinho acharam a nossa casa e começaram a comer a ração que ficava no pote da varanda, à noite.
Quem vinha era principalmente a pastora branca. Quem o Pepê perseguiu e espantou aqui de cima.
Fiquei fascinada com os pastores: a fêmea branca e dois machos pretos enormes. Tanto que fui indagar na cidade sobre eles.
Contaram que eram pastores do tal vizinho lá de baixo, do outro lado do rio e que eles eram muito maltratados. Passavam fome mesmo. Isso explicava o porque deles virem até aqui em cima a procura da ração da varanda.
Mas meus cachorros são pequenos e ótimos cães de guarda, enfrentando os bichos muito maiores que eles para defender o sítio. Assim, os pastores do vizinho vêm até a cerca do pasto ao lado e latem para os meus. Os meus respondem. E fica essa latição a madrugada toda impossibilitando meu sono.
Outra disputa é quem vai tocar as vacas do homem que aluga o pasto ao lado.
Pepê, Joom La e Liliana Jr adoram tocar vacas. É tipo o exercício diário deles. E os pastores adoram tocar vacas também. Daí, enquanto um grupo tocas as mesmas vacas para um lado, o outro grupo reclama latindo muito querendo tocar as vacas para o lado oposto.
Eu tenho p;ena dos pastores do vizinho porque são muito magros, maltratados e ficam pela cidade pedindo comida. Se eu pudesse, adoraria tê-los por aqui para tratá-los bem como merecem. Mas acho que isso não será possível. Estamos com a lotação esgotada de bichos.
Assim, pelo jeito, vão ficar os pastores do vizinho de um lado e os meus latindo de outro por tempo indefinido.
Boa noite!