Tive duas experiências com ayahuasca no prazo de um mês. Não tive alucinações (ao menos alucinações visuais, não), mas senti a presença de forças muito poderosas. Na primeira experiência, consigo identificar nitidamente três ondas fortes, seguidas de inúmeras outras de intensidade menor, no meio no turbilhão. Na primeira onda senti a presença de uma cobra grande. Na segunda, uma onça. Na terceira, um pássaro, também grande – não consegui identificar se coruja ou gavião. Não vi imagens desses animais. Ao contrário, senti a presença deles quase que dentro do meu corpo e da minha consciência. Fiz movimentos corporais semelhantes aos desses animais: movimentos ondulatórios (cobra grande), movimentação de pernas e braços e grunhidos (onça) e movimentação dos braços como se fossem asas (pássaro). Saí da sessão de quatro horas exausto. Na segunda experiência simplesmente levei uma surra de um índio velho e forte. Tive espasmos musculares fortíssimos. Cheguei ao limite da suportabilidade. Mas segui em frente (não tinha como parar). Ainda não consigo descrever mais detalhes. Não sei se é possível descrever em palavras a força dessas experiências. Mas, amparado nas minhas leituras sobre xamanismo (principalmente Mircea Eliade e relatos indígenas), não tenho dúvidas: é uma experiência xamânica. Ao menos para mim foi. Umas das características comuns ao transe xamânico é o desmembramento do corpo, que é retalhado e jogado dentro de um caldeirão, onde fica horas (talvez dias) cozinhando. Depois, é reconstituído. Só que esse corpo (no qual está a consciência) já não é o mesmo. Essa imagem cai bem para o tipo de experiência que tive. Ainda não consigo dizer mais que isso. Estou mobilizando todas as minhas forças para manter a atenção plena e perceber o que continua acontecendo. De uma coisa tenho absoluta certeza: foi a experiência mais forte que tive em toda a minha vida.

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Fonte: feicebuque do Ademir Assunção


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