Durante todo o ano de 2024 persisti no meu propósito de publicar um livro por mês. Na verdade, publiquei treze, considerando também o meu livro “Testemunhas Oculares”, em conjunto com 32 poetas.
“Intrigas” reúne 95 desenhos (originais no formato 40 x 56cm) e fecha 26 séries desenvolvidas num processo contínuo de transformações, durante 26 meses, desde novembro de 2022.
Gostaria que os meus faceamigos lessem o texto com que abro esse livro de “Intrigas”:
“Ciladas, embustes e trapaças
Cuidado: sempre há pessoas por perto; logo, há perigos na vida.
Não há escapatória; vivo ou morto, cada um de nós pode ser colocado na berlinda e, uma vez posto assim, será alvo dos mais diferentes tiros verbais e gestuais.
Se alguém é um santo, pagará uma pena por ser isso. Se quer parecer santo sem o ser, pior ainda. Se, diferentemente, quer apenas viver em paz, isso não o afastará das intrigas, porque poderá ser colocado no escaninho dos omissos.
Nem sempre é possível distinguir a verdade da mentira. E tal não é necessariamente um mal e, por isso, os ficcionistas, que são mestres em mentir, safam-se com o apoio da verossimilhança. Ficcionistas que não se valem de intrigas podem passar por simples escrevinhadores.
Toda criança solicitada a escrever, pela primeira vez, uma história, principia por perguntar ao solicitante: tem que ser verdade o que se vai contar? E a resposta invariavelmente será que a história também pode ser inventada. Pronto: está escancarada a porta da mentira.
Sim, gosto muito da ficção, mas não quero passar por amante de mentiras. Aliás, igualmente não sou amante das verdades absolutas, advertido que estou do perigo cruel de vir a ser “lacrado”.
Note-se que as histórias mentidas tendem mais a um enredo escandaloso. E o escândalo gera audiência, seja contra ou a favor. Diante de um escândalo, não se pode deixar de tomar posição. A abstenção cobra preço elevado.
Por trás de toda intriga há um plano mais ou menos elaborado. O trabalho de planejar em equipe costuma ser mais funcional. E não há plano sem um propósito, ainda que este não seja claro e óbvio a todos os participantes dele. Uma intriga eficiente sempre conta com o apoio indispensável dos inocentes úteis.
Os intrigantes costumam ser criaturas plenas de lábia, bem versadas na arte de enganar. Falam de perto àqueles a quem querem engajar e são muito cuidadosos ao se dirigirem, “amistosamente”, aos próprios alvos das intrigas.
Sabe-se que, na vida, há muitas formas de concorrência, a começar do amor e da amizade e indo até as diferentes formas de exercício de poder. A intriga deve ser colocada no rol das concorrências.
Uma constatação: se o intrigado for mole e flexível nas suas posições, diante dos intrigantes, cai de cara no aranhol. Se for duro e inamovível, isso não significará livramento dos palpos de aranha.
Vale anotar que nem toda intriga é movimentada por uma malvadeza inicialmente planejada. Tantas vezes decorre de circunstância casual do tipo que tem jeito de ser algo que não é. E, se parece, dá-se curso a um enredo, coadjuvado por ciladas, embustes e trapaças, além de outros apoios semelhantes. Não menciono a “Perfídia”, porque me lembrei que esse é também o título de uma canção muito querida pelos amantes das coisas bregas – e a eles, com uma piscadela, quero externar o meu respeito. Perdoa.
Qual é a solução para não ser alvo de uma intriga, que sempre é dolorida? Francamente, meditei bastante enquanto desenhava e consultava meus personagens, e concluí que não há. No entanto, para não parecer um derrotista, ouso afirmar que talvez valha rezar por proteção, mas – sem querer intriga – isso também dependerá de a quem se pede.
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Com o presente volume, completam-se 26 títulos em que são reunidas 26 séries de 95 desenhos cada, todos em cores (totalizando 2.470 trabalhos). Essas séries de desenhos constituíram um processo de transformações em que cada um serviu de “cavalo” para o seguinte. Os títulos foram publicados sem interrupção, ao longo de 26 meses, entre novembro de 2022 e dezembro de 2024, como segue:
1. Para sempre, nunca mais
2. Errantes
3. Sem, com, sob, sobre e
4. Muito, pouco e muito pouco
5. Devaneios
6. Futuro do pretérito
7. Ensimesmados
8. Desígnios do Destino
9. Caprichos capciosos
10. Exercícios de lógica irracional
11. Enganos, erros, falhas e lapsos
12. Confessionário
13. Dições e contradições
14. Para onde?
15. Hipnose etc.
16. Verdades inventadas
17. Degenerados
18. Ferências
19. Camuflagens
20. Invasores e invadidos
21. Almáfagos
22. Tramoias
23. Talvezes
24. Assim foi, assim é e assim será
25. Organização do caos
26. Intrigas
VR
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Fonte da Imagem e do texto: Facebook do Valdir Rocha