O SEGREDO DE SAÍRA., que está em fase de preparação pela Editora Arribaçã, conta a a história de Saíra que começou no livro O INDIOZINHO QUE SE APAGAVA,  publicado na forma monocromática em 2019 pela Editora Coralina, e agora atualizado e colorido, com ilustrações de Douglas Reinaldo, o mesmo artista responsável pelos meus livros A Pirâmide de Gizele (Editora Arribaçã) e O Riso do Rei (Editora Coralina). A versão colorida e reformulada ancora-se em uma perspectiva contemporânea e filosófica, ao citar na introdução textos de Ailton Krenak, Célia Xakriabá e outros importantes nomes sobre a sustentabilidade e a interdependência entre humanidade e natureza,  alinhada aos valores tradicionais indígenas.

No seu início, com algumas alterações bem sutis, este livro rememora a infância de Saíra, a sua tristeza na cidade, os dias de aventura na floresta enquanto procurava pela sua família original, até o momento em que a encontra, depois de passar por uma jornada de autodescoberta e a sensação de pertencimento desde que havia empreendido sua fuga, entrando na floresta  e encontrando a grande árvore e as pelotas de seiva mágica..

O enredo é dividido e organizado de forma linear, com momentos-chave para facilitar a compreensão do leitor. 

As digressões poéticas e descritivas dos primeiro livro continuam neste, enriquecendo o imaginário do público infantojuvenil, complementando a narrativa e reforçando o vínculo com a cultura indígena e a atmosfera mágica da floresta.

Na história, a adoção é abordada sob um viés crítico, enfatizando a negligência da nova família e os medos e desafios do adotado, que não entende aquela rejeição e questiona o frio comportamento daquela família. 

A narrativa se dá de forma respeitosa e educativa, utilizando  uma linguagem adequada ao público-alvo, sem a reprodução de estereótipos, termos ou referências culturais inadequados. A forma descritiva e reflexiva se mantém o tempo inteiro, priorizando o ritmo da aventura, mas sem se descuidar da sensibilidade ao tratar das questões emocionais. As descrições da floresta e as metáforas e imagens que se deixam ver através do texto, além das ilustrações, como na transformação física  e simbólica de Saíra quando descobre e interage com a seiva mágica, foram pensadas para ampliar o impacto no leitor.A história de Saíra mostra o dilema de um jovem indígena deslocado de sua comunidade, um jovem sensível e cativante, vulnerável e ao mesmo tempo corajoso, que luta para recuperar a conexão com suas origens. Também a negligência e o abuso se fazem presentes, representados pelos pais adotivos, em oposição com a acolhida calorosa e enternecedora da sua comunidade indígena, que representa e evidencia a importância do afeto no processo de formação identitária, assim como deveria ser em todos os casos de adoção. 

Mesclando fantasia e crítica social, a metáfora da invisibilidade proporcionada pela seiva representa tanto o apagamento cultural que Saíra sofre na cidade quanto sua proteção e transformação ao encontrar suas raízes, engajando o leitor em uma reflexão sobre a relação com os povos originários e a importância de preservar sua cultura.

A empatia, o respeito às diferenças, a ancestralidade, a sustentabilidade e o cuidado com a natureza, os valores tradicionais indígenas e outros temas usados na construção da narrativa procuram envolver o leitor em uma atmosfera de entretenimento, encantamento e reflexão crítica sobre a importância e o impacto das suas ações na sociedade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *