E vendo o meu leito vazio, 
meu solo árido e quase sem vida,
você, fresca e gotejante,
escorreu do outeiro das nuvens,
e deitou em mim,
e se avolumando
preencheu o meu recôncavo,
tomou todos os meus espaços,
me dessedentando,
e sem receio se adonou de mim,
me umedecendo pelos meios,
beijando e florescendo
a extensão das minhas margens,
reverdejando com a sua liquidez
a rudeza do meu percurso,
ajardinando o cinturão
da moribunda paisagem
e transbordando
a sua alegria por todo canto,
cicatrizando as ranhuras
da minha pele,
abraçando-me suavemente
pelas curvas dos vales,
me levando finalmente
para adentrar mares
e oceanos de terras,
de sóis e de luas
repletos de delícias que,
sem a sua companhia,
eu jamais sonharia navegar.

Remisson Aniceto

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