— Meu amigo, tudo bem?
— Tudo bem, obrigado. E contigo?
— Tudo como deve ser. Vou levando… ou sendo levado.
— Enquanto você vai sendo levado, eu vou esperando que me levem.
— Levanta deste banco. Vamos dar uma volta.
— Estou esperando alguém.
— Ah, é? Passei aqui pela praça diversas vezes e desde cedinho vi que o amigo estava sentado neste mesmo lugar, neste mesmo banco do cemitério. E agora já avançamos para o fim do dia. Suponho que quem você espera não vem mais…
— Engano teu. Quem espero sempre vem. Sempre passa. Passa o tempo inteiro, dia e noite. E está passando agora.
— Cadê? Estou olhando pra todo lado e ninguém está vindo em nossa direção… e todos os que passam por aqui não param, e vão seguindo o seu caminho. Você está mesmo bem? Precisa de ajuda?
— Não preciso, obrigado, só preciso esperar mais um pouco, ou o tempo que for necessário.
— Esperar quem, afinal, meu amigo? Se quem você espera nunca vem, nunca chega, nunca passa…
— Vem sim. Vem e passa o tempo todo. Só ainda não parou. Mas vai parar.
— De quem você fala, afinal? Se é de alguém que passa e não para, me mostre quem é, por favor. Ou trata-se de algum caso secreto do qual não posso saber? Alguém que, se eu me afastar, virá correndo até você? Se a minha presença estiver atrapalhando…
— Não precisa ir embora. Espero por alguém que você não consegue ver. Que passa do nosso lado e, mesmo que estejamos abraçados, pode parar pra mim e não parar pra você. Ou o contrário.
— Mas quem? Quem você espera com tanto ardor? Quem você não se cansa de esperar?
— Você está enganado, pois estou sim, cansado de esperar por alguém que, passando, pare e me leve.
— Quem? Quem? Quem, meu Deus, quem você suplica que passe e que pare e te leve?
— O TEMPO, meu amigo, é o TEMPO.
É ele quem há muito espero que me pare… e me leve.
Remisson Aniceto