Naufrágio, poema de Remisson Aniceto

No alto mar o navio ancorou. 
A alma cansada sangrou,
abalroada pela magoa
onde singrava o coração.

A proa, ferida, tingiu as águas.
Anoiteceu; a maré subiu.
No olho escuro do furacão
um corpo ferido deságua.

Da alma, nenhuma pista.
— Morte à vista! Morte à vista!

O barco levava riqueza a bordo:
fé e esperança cruzando os mares.
A esperança fugiu a bombordo
e a fé diluiu-se pelos ares.

A nau, órfã da esperança
e sem a fé que girava o leme,
pra lá e pra cá balança,
na procela que grita e que geme.

Desfraldado, como um carrasco,
de um golpe o mastro desce,
abrindo o fundo do casco.
Rodopiando, o navio desaparece.

E a tormenta parece uivar:
— Homem ao mar! Homem ao mar! .

E a tormenta parece uivar:
— Homem ao mar! Homem ao mar!

do livro Para uma Nova Era, poesia & prosa (Editora Patuá, 2019) .


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