by Victor Garza·Comments Off on Pedro mata a Morte
Subia
Pedro a rua da Prudência, já cambaleante pelo excesso de
aguardente.
Subia Pedro, garrafa cheia na mão e pensava.
– Por quê Ana foste embora, levando contigo João e Maria?
– Por quê abandonaste a casa, o ninho por nós construído?
Pedro, pobre Pedro embriagado, via tudo pelo prisma distorcido da companheira
que há muito lhe ajudava, aguardente da boa era verdade, mas
as idéias de Pedro há muito perturbava.
Então já cansado da vida que ele mesmo procurara, resolve
Pedro anunciar a sentença mais sofrida que algum dia já
sonhara.
– Morte, amiga Morte, porque a mim tu não levas, nada tenho neste
mundo que ainda me anime a continuar por aqui.
Só que Pedro não sabia, que na rua da Fé, ali ao
lado, andava a Morte a procurar algum desesperado. E escutando seu pedido
ela então subitamente para Pedro aparece.
– Pedro, aqui estou eu, não costumo atender tão prontamente,
mas estava eu tão perto que abri uma exceção.
Pedro então desnorteado, solta a garrafa de aguardente, pensando
instantaneamente.
– Nunca mais bebo nesta vida.
– Quem é tu, figura estranha, toda de preto, carregando esta
foice, achas que me assusta pelo adiantado da noite?
– Calma Pedro, diz a Morte, foste tu que me chamaste, de amiga me denominaste,
vim atender teu pedido.
Pedro então desesperado, chega a conclusão que não
quer morrer agora, afinal pode até ser que ainda encontre na
vida algo que lhe dê prazer.
– Não D. Morte, não é bem assim, é força
de expressão, são momentos de desespero que a aguardente
dá vazão.
– Sinto muito amigo Pedro, mas depois que chego perto, só parto
novamente carregando o ser vivente que a mim pediu ajuda.
– Não Sra., D. Morte, deve existir alguma coisa que a faça
mudar de idéia, afinal este radicalismo nem da morte se aceita.
– Existe sim uma maneira, mas ninguém ainda conseguiu, para se
livrar de mim, tem que pegar minha foice e dar cabo a minha vida, ou
seria minha morte?
Pedro então encorajado, pelo muito de aguardente, que ainda pelo
sangue lhe corria, entra nesta luta insana e tenta vencer a Morte, tirando
dela sua vida, ou seria sua Morte?
E daquelas coisas inusitadas que só acontecem em ruas estranhas
e em algumas madrugadas, Pedro vence a morte e vê no chão
sua cabeça decepada.
A Morte muito estranha, afinal nem ela mesmo sabia se a morte morria,
pega sua cabeça e sai em disparada.
Desce a rua da Prudência e encontra-se na esquina da Fé
com a Solidariedade. Ali, um pouco refeita do susto que levara, coloca
novamente a cabeça no lugar e só por aquela noite resolve
ninguém levar.
Pedro, embasbacado, olha pra todo lado, e encontra sua garrafa em um
canto jogada.
– Companheira, minha amiga, a ti sim, entrego a vida, só pode
ter sido a força da aguardente que me transformou no valente
que matou a Morte, se é que a Morte tem vida.
Mas ficou para Pedro um problema, muitos anos se passaram e agora o
pobre Pedro, realmente quer dar cabo na vida.
Tenta ele vez em quando, subir a Prudência com a aguardente lhe
acompanhando e para bem naquele ponto, onde teve o encontro que da Morte
tirou a vida, e repete a sentença por ele proferida.
– Morte, amiga Morte, porque a mim tu não levas, já não
agüento esta vida.
Mas a Morte agora esperta, não se aproxima de Pedro, porque a
Morte também tem medo e não quer perder a vida, seja ela
vida ou morte.
E agora fica assim, Pedro corre atrás da Morte para acabar com
a vida.
E a Morte foge de Pedro, pra continuar sua vida ou quem sabe sua morte.
Me dê cinco minutos Veja bem não é nada Cinco minutos somente Cinco minutos a meu lado É este tempo que quero Pra tocar tua mão Acariciar teus cabelos Roçar meus lábios nos teus
Cinco minutos, só isso que peço Cinco minutos a teu lado Nada mais eu te peço Cinco minutos somente
Será que nossa história Não vale esse tempo Cinco minutos Contigo a meu lado
Só quero um abraço Um beijo bem dado Teus olhos nos meus Cinco minutos a teu lado
Nada mais eu te peço Cinco minutos Pra ti não é nada Pra mim é lembrança Pra sempre guardada
Lembro com clareza o dia que você nasceu, peguei sua mãozinha e ela cabia todinha dentro da minha, sobrava espaço, poderia dizer que caberiam várias mãozinhas ali juntas. E por um bom tempo foi assim, tua mão em minha mão, sempre sobrando espaço, sempre seguro por mim, te acompanhei em cada passo.Você foi crescendo, aprendeu a caminhar, se deu assim, nossa primeira ruptura, você precisava por aí sozinho andar.Mas volta e meia ainda era assim, tua mão em minha mão, dependias de mim.Os anos continuaram passando, nossas mãos aos poucos foram se soltando. Posso até dizer que éramos mãe e filho meio diferentes, sempre avessos aquelas convenções que o mundo ensina pra gente.Nos permitimos alguns vai a mer…. de lado a lado, e até coisinhas mais pesadas, não era falta de respeito, acredito que era nosso jeito, na verdade sempre fomos muito amigos, e entre amigos até palavrões são permitidos.Mas ainda assim, volta e meia tudo voltava ao inicio, tua mão em minha mão, se estavas meio perdido ou não encontravas teu chão.Teve a primeira namorada, e eu que sempre pensei que de ciúmes seria tomada, achei aquilo tudo tão bonito e nem precisa te dizer, por ela também fiquei apaixonada.Mas mesmo assim, já não era somente minha mão em tua mão, e se deu assim mais uma ruptura, era hora de te dividir com alguém, não exisitia problema, nem triste isso era, porque na verdade só o que quero é alguém que te queira bem.Tivemos brigas é verdade, momentos em que tua mão em minha mão não ficaria, que nossas idéias em tudo discordavam, que não conseguíamos encontrar um meio termo, quando simplesmente não nos acertávamos.Mas ao lembrar delas agora, não me parecem ter uma grande proporção em nossa história, posso dizer que a maioria apaguei de minha memória, e as que por aqui ainda ficaram, só servem para lembrar que bons amigos, não precisam em tudo concordar.Sei que às vezes até tentávamos permanecer brabos por um bom tempo, mas se bem me lembro, nosso tempo não conseguia passar de um dia, e lá estávamos nós, tua mão em minha mão, minha mão em tua mão.E continuaste crescendo, enquanto aprendias a dirigir, não posso negar, tive medo, naquele momento, tua mão na minha mão de nada adiantaria, estavas tomando o rumo de tua vida e minha mão aos poucos soltaria.Enfim, és um homem meu filho, mas volta e meia lá vem os medos da vida que assombram a todos nós, e volta e meia, tua mão em minha mão o consolo ainda encontra.Mas hoje filho querido, o dia que aguardas a resposta tão esperada por ti, não tive eu a coragem que necessito para ficar aí contigo.Preferi sair assim, de fininho, meio escondido, e te deixar com teu pai, tão mais forte que eu nessas horas decisivas.Se der certo (e com certeza dará) ele contigo vai comemorar, e se…(isso não acontecerá) eu sei que melhor que eu ele vai te consolar.Porque eu filho querido,
seja o resultado que for, antes de mais nada precisarei ser consolada.Porque sei que em breve estarás partindo e tua mão em minha mão, menos vezes ficará.Sei que as pessoas pensam que és muito dependente, que precisas de mim pra tudo, e que sou eu que incentivo isso, pra te ter sempre a meu lado, pra que fique sempre assim, tua mão em minha mão.Mas eu não concordo com isso, e o que as pessoas não entendem, e eu já desisiti de explicar, é que não parte o filho somente.Parte meu grande amigo, um grande companheiro, amigo de brincadeiras, de falar várias besteiras, de rir aquele riso solto,das brincadeiras de mau gosto. E como explicar isso, se ninguém entenderá, que nada vai me fazer mais falta, do que aqueles momentos que minha mão, tua mão não encontrará. Mas nada disso importa, eu sei que vais conseguir, terás muito sucesso e teu caminho vai seguir, e se em algum momento tu sozinho te sentir, é só chamar a mim, que em minha mão tua mão vou segurar.E o mais importante de tudo isso, onde eu acredito realmente ter acertado, é que há de chegar o dia, em que eu já muito velha, vou também precisar de ti, e será nesse momento que eu vou encontrar alento, pois eu tenho certeza que em tua mão, minha mão repousará.
by Victor Garza·Comments Off on Quando o lá se transforma em ali
Tenho uma amiga morando na Alemanha.
A Alemanha para mim sempre foi lá, muito longe, principalmente porque
minha bagagem turística só atravessa a fronteira gaúcha, a Alemanha,
minha nossa, era muito lá.
Mas foi depois que minha amiga foi morar na Alemanha, que na verdade nos
tornamos amigas, antes disso ela foi professora de matemática de minha
filha, minha parceira no grupo de vôlei, éramos conhecidas, mas não
amigas. Quando fiquei sabendo que ela partiria, sei lá porque motivo,
fizemos um trato.
Todos os meses vamos nos corresponder, eu te escrevo, tu me escreves, simples assim, meio de brincadeira até.
Mas deu certo, é claro que como boas amigas já atrasamos nossa
correspondência algumas vezes, mas seguimos firmes, carta para Alemanha,
carta para o Brasil.
E foi assim que nos tornamos amigas de verdade, de confidências, de segredos.
Já contei a ela coisas que não contei a ninguém, já nos consolamos, rimos, ficamos felizes e tristes, sempre por carta.
Pronto o lá se transformou em ali.
Para mim hoje a Alemanha é logo ali, tem a distância de um envelope que
me chega as mãos todos os meses, recheado de novidades, carinhos,
passeios turísticos, sei mais sobre a Alemanha hoje do que sei sobre a
cidade após a minha.
Sei quando está frio lá, e como é frio.
Sei quando é verão.
Quando recebo aquela carta, leio e fecho os olhos, posso até me sentir na Alemanha.
Simples assim, ter uma amiga na Alemanha, senão fosse um exagero, quase me transformaria em alemã.
O lá é logo ali, a distância é medida pelo prazer de uma amizade, pelas
novidades, pelas noticias, pela capacidade de construir e manter uma
amizade em universos tão distantes e diferentes.
Talvez eu nunca vá na Alemanha, talvez, sei lá, mas hoje quando penso na Alemanha, não me parece lá, chego a pensar.
É logo ali, minha amiga mora ali, bem pertinho de mim, na Alemanha.